A impresa organizadora "Nova Horizontes" com o seu projeto "Oh Meu Deus", desenhado pelo Josué José, mais conhecido como o "J" estão definitivamente de parabéns pelo esbelto trilho de 150 kms na zona metropolitana de Lisboa. A dureza estava prometida, mas superou todas as expectativas; arriscaria a dizer que toda a gente sentiu, pelo menos uma vez, a sensação de que não haveria necessidade de passar por aqui! Os meios justificam os fins, e depois de "megalómicas-titânicas" subidas estavam sempre paisagens da zona centro de cortar a respiração. Notou-se que não houve preocupação em poupar as pernas, o trilho serpenteava num sobe e desce demolidor, com uma calçada romana desgastada pelo tempo, trilhos técnicos de pedra solta que exigiram constante concentração (estar atento ao trilho, desviar dos buracos, das pedras saltitantes e ainda por cima olhar para as informações do GPS) foram os ingredientes do bolo "beteteano". Uns segundos de desatenção e estávamos no chão "alcochoados" pelas pedras, ou fora dos trilhos a rezar a Deus que o desvio não fosse de muitos metros…E isto aconteceu-me enumeras vezes, sempre no sentido descendente, largava os travões e lá perdia um single-track escondido, restava voltar atrás e subir até ao seu encontro… e assim uma dezena de vez, definitivamente um curso intensivo em orientação com o GPS. O que me perturba é saber que os que foram na frente com velocidades estonteantes conseguiam gerir isso tudo. Não é brincadeira, é preciso dominar muito e antever todas as alterações de trajectória.
Chegar ao fim foi sem dúvida para mim uma superação, como referiu o Paulo aquando do biefing, a palavra superação não estava lá apenas para embelezar! Todo o trajecto foi intenso com muitas calçadas romanas, single-tracks, poucas zonas de recuperação (tão sobejado chãozinho madeirense) e uma quinzena de cumes com inclinações desproporcionais, curtas mas com "pornográficos" graus de inclinação. Um empeno descomunável! No entanto, nutro uma satisfação do tamanho do mundo e um orgulho em ter conseguido o inimaginável. Acabar dentro do tempo estipulado em 14h53 minutos, com enormes bolhas nas mãos, dores de costas, de pernas e muita falta de oxigenação no cérebro… Estive perto da exaustão, mas superei-me, e não imaginem o quanto esta viagem de meses me dá orgulho… Mas este trabalho não é apenas individual, os apoios do pessoal, a ajuda ao longos destes meses de preparação, como também o convívio com o outros participantes foram os ingredientes principais desta gastronomia desportiva, um "hardcore de BTT". Muito obrigado ao Paulo, que me acompanhou horas a fio, quando um empenava o outro puxava pela moral, resultando nos últimos kms numa "cavalgaria" até a meta, de noite debaixo de chuva, para não ultrapassar as 15horas! Sacavém visto num "flash"… até a zona da meta. E aos "Pedros", que ao cabo de tantas horas em cima da biKes não perderam a boa disposição… Definitivamente todos os cumes estavam lá por uma razão de ser, nem tirar nem por. Todo o trajecto foi desenhado para empenar de uma forma que elevasse o espírito de sacrifício de cada participante. Foram sem dúvidas umas 15 horas de BTT extremamente difíceis, devido ao constante sobe e desce, sempre na cremalheira pequena… tanto em plano como a descer! Olho para as mãos e vejo as bolhas que ouvi falar aquando do "briefing" e penso para comigo: Que loucura... que gente louca!
Sempre que estava em frente do computador a preparar a prova, só pensava: OH! Meu Deus! Onde me fui meter. Depois de percorrer os primeiros kms só dizia: Aí Jesus! Aí Jesus! Como vou sair disto? Agora e depois do merecido descanso só penso: Nossa Senhora que tenho de voltar e penitenciar-me outra vez!
pascal
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